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Campo Futuro
6 de junho de 2025
Evolução dos custos com mão de obra na cafeicultura brasileira
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O Brasil está em plena safra cafeeira, com a colheita iniciada no final de abril e previsão de se estender até o início de agosto, podendo ultraar esse período em algumas regiões. Essa etapa concentra grande parte da demanda por mão de obra e representa um dos principais componentes do custo de produção, exigindo planejamento e gestão eficientes por parte dos produtores.

A mão de obra é, historicamente, um dos principais componentes do custo de produção da cafeicultura, especialmente em sistemas de colheita manual ou semimecanizada. A tendência observada nas últimas safras é de aumento da participação dos gastos com mão de obra na composição do custo operacional efetivo (COE), especialmente no período da colheita, quando há maior necessidade de contratação de trabalhadores temporários.

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Gráfico 1: Evolução da participação dos desembolsos médios por saca, da mão de obra da colheita, por categoria – comparativo entre os períodos de levantamento.
Fonte: Projeto Campo Futuro. Elaboração: CIM/UFLA.

Nas regiões onde a colheita é predominantemente manual ou semimecanizada — como em áreas de relevo acidentado — a força de trabalho se organiza de acordo com o porte da propriedade, disponibilidade regional e características socioeconômicas. Os principais modelos observados incluem:

  • Safristas: trabalhadores temporários contratados especificamente para o período de colheita;

  • Mão de obra fixa: empregados permanentes da propriedade, deslocados temporariamente para a atividade de colheita;

  • Mão de obra familiar: comum em pequenas propriedades, com envolvimento direto do núcleo familiar;

  • Parceria (meeiro): arranjo em que o trabalhador atua em troca de parte da produção ou pagamento proporcional, sem vínculo empregatício direto.

A escolha do modelo interfere na dinâmica operacional, na composição dos custos e na capacidade de gestão da equipe durante o pico da safra.

Os dados levantados pelo Projeto Campo Futuro em 2024 evidenciam variações expressivas na participação da mão de obra nos custos operacionais entre diferentes regiões produtoras. A seguir, apresenta-se uma tabela com os percentuais de participação da mão de obra total, da mão de obra dedicada à colheita e dos safristas no custo operacional efetivo (COE).

A tabela permite observar que, em municípios com forte dependência da colheita manual, como Piatã (BA) e Manhumirim (MG), os custos com mão de obra representam mais de 40% do COE. Em contrapartida, regiões com maior nível de mecanização, como Monte Carmelo (MG), apresentam percentuais inferiores a 10%.

Tabela 1. Participação da Mão de Obra Total, Mão de Obra da Colheita e Safristas no COE (%), por município – 2024.

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Fonte: Projeto Campo Futuro Elaboração: CIM/UFLA

Com o avanço da safra 2025, os levantamentos realizados até o momento apontam um aumento médio de 50% no preço médio pago pela “medida” — unidade de remuneração utilizada para o pagamento proporcional à quantidade colhida. Esse reajuste reflete a menor oferta de trabalhadores, o aumento da concorrência por mão de obra nas regiões produtoras e a valorização do café no mercado.

O gráfico a seguir apresenta a evolução dos valores médios pagos por medida (60L) na colheita do café entre 2020 e 2025. Observa-se um crescimento acumulado de 322% no período, com destaque para os anos de 2022, 2024 e 2025, quando ocorreram os maiores incrementos percentuais. A única retração foi registrada em 2023, ano marcado por menor valorização do grão. A análise histórica permite contextualizar o aumento recente nos custos com mão de obra, situando-o em um processo contínuo de reajuste observado desde o início da atual fase de alta dos preços do café. Em 2025 elevação é significativa em praticamente todas as regiões, com destaque para Caconde (SP), que apresentou aumento superior a 55%.

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Gráfico 2: Variação (%) do valor médio da medida paga ao safrista – 2020 a 2025.
Fonte: Projeto Campo Futuro. Elaboração: CIM/UFLA.
Nota: * médias parciais com base nos dados disponíveis até maio de 2025.

O impacto da elevação no valor da medida sobre o custo de produção depende diretamente da produtividade da lavoura. Em áreas de maior produtividade, o custo por saca tende a ser diluído, enquanto lavouras com menor rendimento sentem mais intensamente o efeito do aumento.

Adicionalmente, há um fator climático que pode afetar a rentabilidade da colheita em 2025. O veranico registrado em fevereiro comprometeu o enchimento dos grãos em diversas regiões, o que pode resultar em grãos mais leves e menor rendimento na bica corrida. Mesmo com preços valorizados, o retorno financeiro da safra pode ser afetado.

Diante do cenário de elevação nos custos e limitações para contratação de mão de obra, é importante que os produtores considerem estratégias que possam contribuir para a organização mais eficiente da colheita e para a contenção de gastos operacionais. Entre as alternativas que podem ser adotadas, destacam-se:

  • Antecipação da contratação de safristas, com o objetivo de garantir disponibilidade de mão de obra antes do período de maior demanda regional;

  • Estabelecimento de acordos coletivos e negociações locais, que podem proporcionar maior previsibilidade nas condições de contratação e remuneração;

  • Avaliação da viabilidade de mecanização parcial, por meio de tecnologias íveis como derriçadeiras manuais ou colhedoras adaptadas a terrenos menos acidentados.

  • Avaliação e tomada de decisão quanto a continuidade de talhões pouco produtivos e de difícil mecanização parcial ou total.

A adoção dessas medidas depende das características específicas de cada propriedade, incluindo topografia, escala de produção, disponibilidade de capital e estrutura de gestão. Sua implementação deve ser avaliada à luz do custo-benefício e da capacidade operacional do produtor.

A colheita é uma das etapas mais intensas da atividade cafeeira, exigindo mobilização de recursos humanos e financeiros em curto período. A alta nos custos com mão de obra, aliada à dificuldade de formalização das contratações, exige atenção tanto do setor produtivo quanto do poder público.

Além disso, a diversidade de contextos produtivos observada entre os municípios levantados demonstra que o tipo de condução da colheita tem relação direta com os custos da mão de obra por saca colhida. Em sistemas manuais e semimecanizados, especialmente em lavouras de arábica localizadas em regiões montanhosas, os custos tendem a ser mais elevados, como é o caso de Poço Fundo, Piatã e Brejetuba. Os menores custos foram verificados em propriedades mecanizadas ou em regiões produtoras de conilon/ robusta, como Franca, Monte Carmelo, Cacoal e Jaguaré, cujas características agronômicas ou estruturais favorecem maior rendimento operacional e menor dependência de mão de obra intensiva.

Esses dados reforçam a necessidade de avaliação, por parte dos produtores, das práticas e tecnologias viáveis para melhorar a eficiência da colheita e reduzir seus custos unitários. Em muitos casos a reavaliação de talhões pouco produtivos ou a reorganização da logística de colheita podem representar ganhos significativos. Mais do que adotar um modelo idealizado, o objetivo deve ser a adaptação consciente e progressiva da estrutura de produção, de forma compatível com os recursos disponíveis e com o potencial produtivo da lavoura.

Ativos Campo Futuro - Café Maio 2025

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